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POESIA DO SACRIFÍCIO (1992)

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POESIA DO SACRIFÍCIO de 1992

(deixado aos colegas do Hospital de Sabinópolis, quando saímos de merecidas férias)

 

Vou me ausentar uns dias

Do Plantão e botequim.

Vai ter gente aí afora

Querendo saber de mim;

Onde fui, onde estarei,

E essas coisas enfim.

É pensando nessa gente,

Que eu me despeço assim:

 

Meus prezados companheiros,

Por ora mudo de ofício.

Apesar de bem cansado

E estafa dando indício,

Arrumei malas e cuias

E parto pro sacrifício.

 

Vou enfrentar o asfalto,

Zunando na curva rasa,

Restaurantes estradeiros,

Churrasco cheirando a brasa.

(aventura esquisita,

preferia estar em casa)

 

Vou sofrer num grande hotel

Ao chegar no litoral.

Aquele sono inquieto,

Ao som do mar infernal.

(que saudade vou sentir

do plantão do Hospital !)

 

De manhã tem mais penúria:

Suco, frutas, toddy quente.

Ginástica em plena praia,

Areia sujando a gente.

(preferia estar tranqüilo

aqui no nosso batente.)

 

E o tal queimar ao sol

Cada hora de um lado?

Ou salgar o fiofó

Num mergulho apressado?

(eu queria mesmo estar

nesse trabalho folgado.)

 

E quando invento nadar,

Uma onda traiçoeira

Me dá tombo atrás de tombo.

Até dói na escadeira.

(eu queria ter ficado

nessa vida costumeira)

 

E, no bar, à beira-mar,

A cervejinha gelada

Que desce gelando o bucho,

Numa agonia danada?

(ai que falta vou sentir

da nossa água filtrada!)

 

E depois vem o almoço

Com bobó de camarão,

Lagosta, truta, siri,

E um tal molho de salmão.

(que saudade, meus amigos,

do nosso arroz com feijão!)

 

Depois do almoço, a preguiça,

Aquele sono esquisito.

Á tarde, mais sofrimento:

Brahma chopp, peixe frito.

(eu prefiro ´Sabinopis´

sem preguiça e sem agito.)

 

De tardinha mais canseira:

Um baita dum peladão.

Areia no fiofó:

Um mergulho é solução.

(Nosso racha é que era bom,

Na poeira do aterrão!)

 

Á noite, tocar viola.

E seresta pra esquecer.

O sono chega mansinho.

(se eu pudesse escolher

ficaria no Hospital;

isso, sim, é que é viver!)

 

Mas com tudo se habitua,

Mesmo nesse labutar.

E surge mais um problema

Que terei de enfrentar:

Quando a gente acostuma,

Chega a hora de voltar.

 

Desse modo, companheiros,

Uma coisa eu digo só:

Se alguém me procurar,

Nem que seja minha avó,

Não precisa envergonhar

Diga sem o menor dó:

“- Zé Rudrigui, coitadim,

Foi salgar o fiofó!”.